quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mestres - Alto do Moura


O bairro Alto do Moura, em Caruaru (PE), é berço da arte de modelar argila e da cultura de raiz. O local fica a sete quilômetros de distância do Centro da capital do forró e abriga cerca de mil artesãos. Os ceramistas, por exemplo, retratam, em sua grande maioria, o cotidiano do homem nordestino.

A região é considerada pela Unesco como o maior centro de arte figurativa das Américas. Como um reduto da cultura pernambucana, o local abriga, além dos ceramistas, representantes de grupos musicais e de danças regionais, como a mazuca.


O bairro se transformou em atrativo turístico internacional, o que também aumentou a venda de peças de argila, que são exportadas para países da Europa, América do Sul e para os Estados Unidos. Na casa onde Vitalino Pereira dos Santos, o mestre Vitalino, morou durante cerca de quarto anos, hoje funciona o museu que leva seu nome. Ele ficou famoso por fazer bonecos de argila com personagens nordestinos. A primeira peça esculpida por ele foi “o caçador de gato maracajá”, em 1915. Após sua morte, em 1963, de varíola, a arte de “bonequeiro” foi herdada por dois de seus filhos, Severino e Amaro. Mas é Severino, que aprendeu a arte do pai, aos 7 anos, e que mantém o museu em atividade. Hoje ele está com 54 anos. “Faço isso desde 1947. Meu pai primeiro me ensinou a fazer o boi e o cavalo, pois são mais fáceis.”


Ele explicou que a argila usada para fazer os bonecos é retirada do Rio Ipojuca, que fica nas proximidades do Alto do Moura. “Lá, eu pescava, brincava e comecei a mexer com artesanato”, disse ele.


Do outro lado da rua São Sebastião, onde fica o museu de Vitalino, também funciona a loja e o ateliê de outro artista: Mestre Galdino. No local, há exemplares originais feitos pelo ceramista. Também estão disponíveis para os visitantes as poesias, fotografias e textos sobre a vida do artista. Mestre Elias Francisco dos Santos, 84 anos, permanece vivo, em carne e osso, no Alto do Moura. Ele é considerado como o primeiro discípulo de Mestre Vitalino. Apesar de usar essa marca como estratégia de marketing, ele recusa o título. “Na verdade, nunca aprendi nada com Vitalino. Via as peças dele na feira apenas. Como ele não aceitava fazer peças partindo de desenhos dos clientes, eu aproveitava e pegava esses trabalhos.”


Elias disse que tem uma obra se sua autoria que ninguém jamais imitou. “Tenho orgulho da imagem de São Jorge, porque nunca vi alguém conseguir copiar esse trabalho. As outras peças, todo mundo imita e até fica igual, mas essa é só minha.” Ele demora quarto dias para concluir a imagem do santo.